24/01/2022 - Quem tem medo de dentista?
Reflexões sobre o medo no tratamento odontológico
Por Dra. Ingrid Caetano
A odontologia de hoje está muito longe de técnicas e aparelhagens – muito rudimentares – aplicadas no passado. Devido ao uso dessas técnicas é muito comum ainda hoje recebermos pacientes que, já na ficha de anamnese, nos relatam medo extremo, seja ele da figura “dentistaâ€, da cadeira odontológica ou dos demais equipamentos usados no tratamento (o famoso motorzinho por exemplo).
Quando se fala de equipamento odontológico, 50, 60 anos atrás já é o suficiente para termos uma enorme viagem no tempo em relação às mudanças de tudo o que se usava no passado e de toda a modernidade que se tem hoje no consultório odontológico.
Equipamentos de alta precisão, luz de led, telas de LCD com 4k de resolução, scanners intraorais (inclusive a nossa mais nova aquisição na Mutato), raio-x micro focados – que permitem radiografar até mesmo gestantes – Vão dando um aspecto mais claro e lÃmpido para o que antes parecÃamos viver uma “idade das trevas†na odontologia.
Além de todo aparato fÃsico, que trouxe modernidade e tecnologia aliada à melhoria das técnicas, o fator humano é pessoalmente algo que se torna o supra sumo da profissão.
O medo em si não é um sentimento ruim, não é algo que nos destrói – mas que precisa ser racionalizado. É por conta dele que o ser humano sobreviveu por milhares de anos. O medo de passar fome, o medo de feras, o medo da noite e da escuridão. O medo de sentir dor nos faz manter a sobrevivência, leva o ser humano ter prudência com sua própria vida. Mas o medo pode ser por uma causa real (medo sofrer um acidente de carro, me faz dirigir de forma muito mais consciente, por exemplo) ou imaginário, ligado a situações que não foram vividas ou fobias. No caso dos medos que nos paralisam por completos, são chamados de fobia, um degrau à mais na escala do medo.
Em minha última leitura de Leandro Karnal (filósofo contemporâneo que tenho uma imensa admiração) que de nada fala sobre tratamento odontológico em si, mas ao mesmo tempo trata de todas as relações humanas e seus sentimentos com maestria. Nessa leitura, a metáfora de Schopenhauer, trata de porcos espinhos passando por um terrÃvel inverno, em que, para sobreviver são obrigados à se aproximarem devido ao frio intenso, mas a presença dos espinhos os fazem afastar devido à dor que eles provocam. E dessa forma eu faço minha reflexão que é a nossa linha de trabalho aqui em nossa clÃnica: O limite do outro. Chegarmos até onde o limite, o respeito e o afeto pelo outro nos permitirem. E nessa vertente de pensamento com foco odontológico, chegar até onde não ultrapassemos o limite do medo do outro, pois só a vivência do novo, com acolhimento e a prática profissional poderá mudar o estigma, a cicatriz deixada por experiências anteriores.
Dra. Ingrid Caetano
Graduada em Odontologia pela UNESP
Especialista em Prótese dentária
Gerente ClÃnica da Mutato Oral Clinic